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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Jornada



Por ter a imensidão como jornada
mas não as mãos para abarcá-la
abstive-me de ser seu remador
no barco adernado dos acasos

Por ter a imensidão como empreitada
mas não os arreios para lhe dar
prumo
abstive-me de ser seu navegador

Agora sigo mudo
com uma velha mochila abarrotada
de claridades do mundo

             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Navio banido



Como um navio banido
saio da orla azul onde habitamos
como um navio banido
vagam no horizonte
os nossos olhares apartados
De novo somos os de antes
mas longe das estrelas
dos bares onde nos amamos
e que agora são os ícones mortos
do nosso amor errante
Como um navio banido


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Redes de vento





As palavras pelo mundo
eram puro movimento
A cada momento as buscava
com minhas redes de vento
A cada instante partiam
como   pássaros ao nada
mas para mim retornavam
num movimento crescente
Voltavam como cardumes
ou mesmo  como matilhas
de coisas a serem ditas
Pousavam sempre inocentes
na noite feita de águas
com seus lumes e semblantes
no colo da madrugada

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Poema de barro




Noite dos dizeres
derramados
Sob o luar
uma sinfonia
Frágeis as mãos
talham o barro
da vida que seria
E assim este
faz-se verso
no corpo do poema
até tornar-se pássaro
e ir-se na ventania
Então pensa o homem
que é ave
o barro
de sua poesia

                 Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Barco sem cais



Como um barco sem cais
refaço o percurso
que nos apartou
As ruas escorriam pelos dias
e o mar era o nosso destino
O pão nosso de cada dia
era o nosso amor
e assim, livres
com as mãos atadas
pelo estado de comunhão
que nos supria
seguíamos sem sequer
suspeitar
que o tempo
nos apartaria

               Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Sob estrelas



Sob as primeiras estrelas
e a égide de um sonho
descemos abismados
das cidadelas do outono
E as centelhas da noite
que são enxames de estrelas
lembram acordes calados  
que nos ocultam sem nomes
Com as primeiras palavras
das cercanias das águas
trago da noite os poemas
soltos da foz do mundo

                Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Palavras



A noite tinge estrelas
esculpidas sobre as águas
Mas sob o clarão do nada
forjamos vagas certezas
com nossas frágeis palavras
e seus navios de areia
Que fossem nossas palavras
mais estradas do que muros
ou mesmo mais do que isto
fossem o sentido que busco
Mas são apenas os pássaros
das algazarras do mundo
pois quando as busco e as enlaço
se tornam signos mudos
e novamente me acho
sob o mistério de tudo

                  Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Constatações




Nunca move-se o poema
para onde o tanjo
e de suas revoadas
só guardo arranjos

Do sumo das palavras
que o consome
só retenho vagos cantos
que lembram veleiros
sem nome
ao sabor dessa
alquimia
a qual chamam
poesia

              Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Noite branca



A noite arada pelos ventos
te afaga com seus elementos
Mas os teus olhos sobre a orla branca
já não tem o ar cansado dos passantes
Em ti ancoram ínfimos
os navios dos teus poemas
mas estás aqui alheio
às multidões de signos

Tens por fim somente
a companhia de teus versos
que nesta madrugada pousam leves
como bichos ariscos
de outros universos

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Papel do mar





Que o mar cumpra seu papel
com seus búzios que a todo momento
me chegam com seus  sonetos de vento
e que levo aos ouvidos desatentos
Que o mar cumpra seu cordel
ao trazer-me o sentido do infinito
seu país azul amarrotado


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Luz das calçadas



Eu que estava só sob o efeito das palavras
quis fazer delas em mim um caminho e enseada
Agora persigo a luz que pousa nas calçadas
inventando o que me escapa encantando o que me desata

Como as lanternas acesas dos balões das madrugadas
da minha infância calada onde o tempo não passava
De uma vida sem voz onde a fala sitiada
Reinventou-se  em palavra em forma de música e água


      Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Atabaques





O mar quebrava
nas calçadas
E os atabaques
sitiavam
O que em nós
era outono
e madrugada

                       Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Indizível



Longe das cidades mas perto
dos veleiros
abrigo-me sob os poemas
na mesma latitude do mar
mas já na entressafra do não dito

Assim procuro o indizível
como se a palavra
esta que por si se basta
fosse apenas o preâmbulo
de uma grande saga
a ser contada


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Palavras






Palavras emergem do açude
da alma
e as sigo
para que soltas do visgo
da noite
tornem-se o pão
do mundo

Não há descanso
até que pousem
na carne da vida
na música e seu incêndio´

Na foz dos acontecimentos


                Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Parapeitos



Que seja janeiro
de onde emergem as palavras
içadas dos parapeitos
dos dias que aqui me chegam
e se erguem para o nada
Que seja janeiro
a foz do primeiro beijo
e deste copo largado
a espantar-me de mim mesmo
E que de janeiro voltem
os comboios da infância
com seus navios perdidos   
no dorso dos horizontes
E que assim janeiro nos deixe
sem as respostas procuradas a esmo
Só encontradas nos teus olhos janeiros
e nessa enseada a que chamo de teu corpo


                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban






Poema para o pai







Pai
o que faltou de ti
para abarcar
sobrou de mar
e pescarias
ao luar
O que faltou de ti
para compreender
sobrou em mim
para te reescrever
O que em ti faltou
para me perder
sobrou em mim
para te achar
Agora te levo
como um menino
pelas dunas
do entardecer
e me perguntas
se sou teu pai
e me indago
se és meu filho

                  Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Alpercatas



Estas alpercatas
emprestadas
Curtidas
com o couro
das estrelas
e estradas
para calçar
servem
nessas ruas
esgarçadas
onde o coração
solar
não serve

                 Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Por si só




Um poema é uma porta
aberta
Um avesso
do qual se volta
de si mesmo
E por si só
não se ergue



                  Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Tradução

Um homem 
não trai seu sonho
nem o deixa
sem o abrigo
da tarde

Assim o tem
como vestimenta
que não o deixa mentir
que o resgata 
do abate

Um homem traduz 
seu sonho
na sua forma
de cumprir a tarde

Como se sonhar
fosse só um ato
e não um difícil
encargo

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Porto abandonado





Deito sobre acordes
de barcos
ao acaso

deito sobre acasos
em mim adernados
enquanto a infância
porto abandonado

alimenta a cidade
submersa

     Poemas dispersos de Francisco Orban 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Homem do mar




Sou um homem do mar
e por isto velejo
num navio
sem rumo
Num navio de velas
tecidas de sol
e outonos dobrados
emprestados do mundo
Sou um homem do mar
que espanta cansaços
Para acordar
e se por
a serviço das águas

     Poemas dispersos de Francisco Orban 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O poema de amor





Muitos poetas te amaram
mas eu te amei muito mais
porque estavas
no coração selvagem das estações
do mundo
e as amarras que nos apartavam
sob o teu olhar desatavam-se
e tudo era o nascimento
da encantação

Muitos outros te amaram
mas eu te amei com meu amor sereno
e pousei uma flor
na palma da tua mão
E plantei um beijo no teu sorriso
e tu cobriste de doçura com os teus gemidos
o que era o início do mundo

Muitos te amaram
mas só eu segui contigo o caminho das águas
quando meu amor louco ressoava
e fazia debandar os navios

Sol das esperanças
mar dos horizontes amarrotados de barcos
Aqui estou assolado pelas multidões de dias
e dos caminhos que encontrei pelo mundo

Ouça meu amor este poema
agora que o crepúsculo nos assedia
aceno para ti como sempre acenei
Incansável´

               Poemas dispersos de Francisco Orban

Outras mãos



Esquece as palavras que invento
meu amor
Amanhã, outras mãos
abrirão tua blusa
tua carne
Nada teremos
a favor de nós
Eu que te elegi
no dorso de um poema
que a noite me assegurou
com seus navios
Esmurro agora o nada
que me reserva o tempo
a indiferença da tua boca
Porque é o tempo
com seu crepúsculo
o que nos aparta
para longe  do aroma
do teu rosto

               Poemas dispersos de Francisco Orban 






Jornada




Se a palavra
comporta
o oceano
porque
não fazer dela
uma jangada?


Porque não fazer
dela uma jornada
navegando
no dilúvio
de um sonho ?


                 Poemas dispersos de Francisco Orban 


Nossas mãos







Só a palavra não basta
para expressar um verão
Falta a água
e seus corredores
salinos
Falta o mar
e seu país azul
em nossas mãos suadas
egressas de um sonho
Como se tudo o que falamos
ficasse contido nesta
estação
que habitamos

                     Poemas dispersos de Francisco Orban

à beira de um carnaval



Eu a amava
e todos os silêncios
nos cercavam
e era quarta feira
à beira de um carnaval
onde lanternas suaves
eram penduradas nas ruas
e algazarras ordenavam-se
nas almas dos homens
Eu a amava
Mais a imaginando do que vendo
e nossas vozes formavam uma sinfonia
pela força do hábito
de nossos entrelaçados cotidianos
de beijos e abraços
e palavras ternas proferidas
E quando nos apartamos
parecia ser só o tempo de um dia
Mas ao tempo de um dia seguiu-se outro
e a este outro somaram-se noites
E assim tem sido
Como se não soubéssemos
que o tempo é uma armadilha

                      Francisco Orban



Mero remador






Quisera eu
que sou um mero remador
ter o poder de enfeitiçar
as palavras
Elas sim me chegam
do nada
e se refazem plenas
na palma
do poema

Não transmuto
as palavras
desato-as
de suas ciladas

                         Poemas dispersos de Francisco Orban 



Desencontro




Adotamos o silêncio
e sua  linguagem
como uma sentença
para esquecer
Adotamos os navios desarrumados
do cais
guardamos as cartas
os e-mails
e eu percorri sem ti as estradas
aterradas do mundo
Nada acusa o semblante
do nosso desencontro
Nem as ruas
sitiadas 
ou os cômodos retirados
às pressas da cidade solar
onde amamos

                Poemas dispersos de Francisco Orban 




Olhar de pescador





Meu olhar de pescador
desconhece o vento
E a cada intento do azul
escrevo um verso
Se estou perto de Deus
não sei ao certo
Aqui os flamingos
desconhecem  o tempo
e planam  sobre o mundo
a céu aberto

Eu voo sob os braços do eterno
em mim tão perto
e obscuro


              Poemas dispersos de Francisco Orban



Longe das estrelas







As palavras que agora nos separam são as mesmas que um dia usamos ao andar de mãos dadas, no nascimento do mundo. Longe, longe das estrelas, aqui estamos sem mais o que dizer, já sem as palavras, que um dia foram os primeiros passos e acalantos que te encantavam e que retornavam a mim através dos teus braços.  Agora, só o áspero silêncio enlaço e ele me devolve o mesmo roteiro de estrangeiro, de onde parto novamente para outro cais, além dos mapas náuticos, para outro cais além dos mares e da noite e da desventura de te perder.



              Poemas dispersos de Francisco Orban

Palavras do mar




Ela que vinha com as palavras do mar
e que trazia os signos da tarde
soube me olhar
dizendo que me queria
e que em meus olhos via
navios
e canções de antigos
mares


Ela que de tão linda
quis comigo namorar
sussurrou para mim
que me amava
Agosto caía sobre a tarde
cães cegos confrontavam
o acaso

E nós quase selvagens
vimos nascer o dia


             Poemas dispersos de Francisco Orban 




Mapas e veleiros





A arte de equilibrar-se
passou.
Agora acampa nos meus olhos
o que não passa
A gangorra das palavras
que não aconteceram
O não dito do curso
de um rio sem margens
O rigor da noite
a assombrar seus passageiros
Súditos do mundo
sem paradeiros
Largados com seus mapas e veleiros
e bandeiras de pátrias assoladas
que são terras de ninguém.

                      Poemas dispersos de Francisco Orban

Botânica



Noite botânica
os navios buscam
enseadas.
Vindos de vagos países
onde as almas se renderam
às coisas esquecidas
das palavras


                 Poemas dispersos
                                            de Francisco Orban

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dezembro




Dezembro não pertence mais às águas
agora é só uma notícia
uma casca da madrugada
descida da árvore do tempo

Dezembro não vem mais com o vento
e em minha pele trava embates
com as marcas de outras estações

As palavras ancoradas nas marinas
do mundo
também acolhem dezembro
Só pelo hábito
de afagar seu rosto


     Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Precário destino











Há muito que o mar me trouxe
como pele suas algas
Os ventos batem afoitos
nos cascalhos do meu rosto
Movido por um deus mudo
sigo atento pelas dunas
do areal que ficou
do que um dia foi só água
Há muito que o mar deixou-me
como saga seus navios
e suas escunas brancas
com as tarrafas da esperança
Das coisas do mar e do mundo
eu sou tecelão e causa
catando búzios do mar
como acordes espalhados
neste areal de silêncio
onde estrelas fazem
pausas

                   Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Noite adentro



Estou aqui
onde o vento traz
a noite
e há lendas
e almas que escutam
Aqui entre os tambores
dos versos
sob a lua nua
Aqui
tocando a face salgada
de uma estrela

Aqui nesta noite
regida pelas sinfonias leves
E que há de novo
entre o mar e a treva?

Nada
além da palavra
árida
e incompleta

            Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban





Face secreta



Lido com a face secreta do mar
Aqui as pedras secam sob o outono
A sombra de um poema fica
como saga de navegações
A cerração do verão sobre as certezas
A pele da aventura
sobre  o corpo
da noite

Lido com o hálito
de uma estrela
e seu sentido
a iluminar
meu rosto

              Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Esta vida







Para ter esta vida
sem eira nem beira
e descumprida
perfilei calos
sob o olhar da lua
replantei cactos
sob os músculos
do dia
E os signos
do mundo se tornaram
minha companhia
Eu que era só os vestígios
de um homem
me tornei rei
sob o manto
de um sonho

              Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban




Ombro a ombro



Navegaremos por cidades perdidas
Com o barro inesperado dos dias
faremos o inventário do outono
Olhando as estrelas a velar nossos sonhos
resistiremos

E ombro a ombro com nossas vidas descalças
inventaremos nas calçadas da noite
o escape do nosso degredo


Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Enseada de água






No dia em que vi você, o equilíbrio e o caos
se encontraram no mundo. Percebi que peixes
se aproximavam, o sol me acompanhava e todas
as pedras ficavam mudas porque você as pisava.
Vi que os caules dos poemas tornaram-se
sólidos com sua presença feminina e seu olhar
gerava controvérsias sobre um Deus solar
que nos guiava. Vi que pisavas vagalumes incautos
e sua boca lembrava-me a de alguma fada urbana
desgarrada. Neste dia percebi que nosso amor
aportava numa enseada de água

             Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Estação de dezembro





O  tempo é a estação de dezembro
onde os ventos chegam insones
E em seu convés habitamos
como num rápido outono

E nesta viagem em que estamos
momentos são sedimentos
E os suprimentos que temos
são das colheitas dos sonhos


          Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban 

Cordas do momento




Um homem feito de vento
andava sobre as cordas do momento
e nada sabia da água
e nada sabia do tempo


Um homem feito de água
rastreava a madrugada
E nada sabia de si
do andar de sua mágoa

         Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Calçada das horas




  Salta a lua na noite. Tudo é a imensidão do agora. Aqui estou no epicentro de um rio. Mas a mão de uma menina me busca e me leva para a calçada das horas. Em sua tez sinto a tez das águas. Ela me diz dos caminhos do mundo onde a esperança deságua. No meio da chuva estava o amor como uma granada calada. Levou-me pelas ruas do tempo, onde os piões e as palavras dormem ainda em estado nulo. Salta o crepúsculo sobre muros e brotam poemas que se guardam.  Ao ir-se com um beijo em meu rosto, disse-me que não há abismos, apenas canções descuidadas


    Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban 


Horizontes



Eu estava só
e as plantas cresciam
sob o alísio
Eu namorava a alma
das estrelas vagas
sob a febre da noite
e das águas

Eu estava só
e tudo estava só comigo
assistindo à grande queda
do horizonte
sobre a claridade
das calçadas


             Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Presença de água






Porque estive em tua presença
as águas do pensamento nasceram
Porque beijei tua boca
a canoa das horas parou
Porque era o mar e o sol
sob a chuva e o vento
Porque um abismo sem palavras
apagou-se sem dor
Porque amanhecia quando tu chegaste
e uma lua gigante
pousava nos ramos da tarde


            Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban

Há quem diga






Há quem diga que o nosso amor foi como o mar
com infinitos horizontes onde nos deitávamos
cingidos por sua fala salina
com marinas em torno de tudo
que nos dizia respeito

Há quem diga
que foi o mar que nos gerou
quando pisávamos incautos
os seus tornozelos de água


Há quem diga que foi com o mar
que aprendemos a nos afagar
e  a entoar com suas canções
de roda
a oração que nos
fez navegantes

Há quem diga que foi o mar
o nosso mensageiro

E todos os poemas são traduções
de suas águas e  veleiros

                   Do livro "Terraço das estações" de Francisco Orban