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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Conclusão


O POETA É UMA AFRONTA À RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO

                (Ricardo Silvestrin)

No Coração da matéria




Quebro a máquina de janeiro

no coração mudo da matéria
pisando estrelas e vísceras abertas
Sigo sem destino
fingindo ter destino
com a alma talhada como pedras
Mas a sombra de um menino me acompanha
diz-me ser eu mesmo antes de mim
Digo-lhe da morte das baleias e ele ri
Acendemos incensos pela noite
acudindo vaga-lumes descuidados
que agonizam no chão áspero da terra
Criamos com a areia do mar a fórmula
de salvar o mundo
usando serragem de estrelas
mas tudo é um sonho
Ele deita o rosto no meu peito assolado
por uma poesia sem dono
e diz ouvir os navios da infância
pergunta-me quem foi Gepeto
pergunta-me o que é o cansaço
pergunta-me sobre sua mãe e seu pai
sobre todos os movimentos dos barcos
que vê e me mostra no horizonte
onde eu
cego pelo hábito de viver incrédulo
não vejo o que sei que lá se encontra

Sobre o Outono

O outono tem uma sinfonia
Vejo-o  com o olhar
dos que sonham
Para o outono nasci
mas me perdi de sua aventura
Não o acho na noite
que construí
não o acho
no advento do verbo
nem no dorso
das canções belas

Para o outono nasci
mas o perdi
no córrego das ruas
e isso deixou sequelas
e deixou-me as mãos largadas
e me trouxe o silêncio 
dos pescadores
que tangeu
de mim meus navios
dizem que para a lua

terça-feira, 26 de maio de 2015

Jarros na manhã


Os jarros na manhã
improvisam os pássaros
Os navios ao acaso
improvisam os sonhos

Eu me improvisei
encantado
Ando por ai 
reconhecendo em min
um rei que sonha

Os alaridos dos signos
me acompanham

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Do mar sem fim




De que me servem esses navios
que do ofício de existir
não trazem os mapas
descidos do mar sem fim
para a palma
das palavras?

De que me servem
se não me dizem 
suas jornadas? 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Opinião

A poesia de Francisco Orban transborda na intensidade de um de seus versos inaugurais: “palavra, minha única estrada”. Poeta que se permite transfigurar-se frente ao ensurdecedor e tantas vezes estéril espetáculo do mundo, ele anuncia suas auroras como um predestinado e é assim que também assume os passos de cantor da vida e seus tumultos, dos acertos e desacertos amorosos, do que há de glorioso e inglório nesta nossa estrada de pó e esperança. Quieto em sua oficina, sem alarde, ele aos poucos se afirma, e com justiça, entre os mais convictos e afinados líricos de sua geração e um dos poucos que encaram a poesia com generoso e claro espírito de missão. (André Seffrin)