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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Arrastão






Recolho do mar
os poemas
para que assim
renasçam
com seus motivos
de vento

Que importa se me trazem
a exaustão das estradas
ou os sudários esquecidos
dos habitantes do frio

Que importa se me trazem
a pele franzida e aguada
do escalpo de uma estrela
caída da madrugada

Nos anzóis do dia-a-dia
fisgo os poemas
que emergem
da foz  de um mundo
não feito

E há sempre uma safra nova
com seus motivos e vinhos

Caminho por meus poemas
pois são estradas de vento
Caminho pelo que são
passagem para a imensidão

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ônibus 614




A noite por dentro das horas e do amor
e os rostos deitados no chão do mundo
Assim caminhava-se:
milhões de cigarras na pele das calçadas
e as pedras suadas
e o cheiro de rio de mata e silêncio
e eu sem saber navegar
e sem saber do mar
e o ônibus 614 levando os meninos e meninas
com seus destinos de vento

Nada mais se sabe desta terra
nem do rosto dos seus encantados
estacionados nas madrugadas
de um mundo sem fusos-horários



Éramos filhos da noite
e havia os balões e seus caçadores
pela madrugada
e o espírito da mata com seus sonhadores
e os dias com seus mares abertos
onde o ônibus 614 passou
percorrendo  vinte quadras
antes de embrenhar-se no mundo
e descer pelos ralos do nada

Éramos filhos da terra
E a noite nos recriava
Um rio atravessau o mundo
sob a chuva que se estendeu por cem horas
entre pedras, caminhões, estrelas mortas
Tudo desceu pelo dedo das horas
naquela vida assombrada
em que para nascer era preciso
descer no ônibus 614
em um mundo sem palavras
em pleno estado de comunhão

Não estava escrito nos braços
dos navegantes
nem no navio que nos fez sair
do silencio
Não estava escrito no passado
onde nos vimos todos
nos mesmos bares e verbos
imunes ao tempo e seu  cenário
enquanto o ônibus 614
atravessava o mundo
levando os meninos e meninas
com seus destinos de vento



O ônibus 614 desceu a  Rocha Miranda
e viu Cristina Maria, feita de adolescência
e passou por dentro do tempo
entre as árvores desencontradas da esperança
pela experiência de ser guiado por uma estrela
que também por nós se guiava
pelos corredores azuis da noite
com o mapa do mar no bolso
com o mapa das águas no coração
Mínimos meninos
pisando nos trilhos de um trem que ia da alegria
a Itaguaí
mas que foi desativado
como foram oceanos
bichos, palavras, amores, amigos
lutas, violões, ventanias

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Do mar

Do mar
os búzios
estes adereços
de água
com os quais
ouço
sua sinfonia
azul 

Os búzios 
que o mar estorna
assim como nós de sua orla
da qual não voltamos
impunes

Como do quebrar
de suas vagas
e dos abraços
de seus horizontes
abertos

terça-feira, 11 de novembro de 2014

ônibus 614

Tramo com o dia 
um poema
que se torne

passagem

Do poema ônibus 614

Tempo

O que seria o tempo
se não um breve vento
a folhear 
o que nos antecede
e o que será

Aqui



Aqui
onde o mar
se anuncia
como o prenuncio
de revoadas

Aqui onde as mãos
cansadas terão
vez

Aqui onde  tudo 
se cala
sob o teor
da madrugada


Aqui, de onde  
a noite exala
(do mar)
um país azul

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Face secreta



Lido com a face secreta do mar
Aqui as pedras secam sob o outono
A sombra de um poema fica
como saga de navegações

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Uma definição






O POETA É UMA AFRONTA À RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO

                (Ricardo Silvestrin)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Longe das estrelas




As palavras que agora nos separam são as mesmas que um dia usamos ao andar de mãos dadas, no nascimento do mundo. Longe, longe das estrelas, aqui estamos sem mais o que dizer, já sem as palavras, que um dia foram os primeiros passos e acalantos que te encantavam e que retornavam a mim, através de teus braços.  Agora, só o áspero silêncio enlaço e ele me devolve o mesmo roteiro de estrangeiro, de onde  parto novamente para outro cais, além dos mapas náuticos, para outro cais, além dos mares e da noite e da desventura de te perder.

Horizontes




Eu estava só
e as plantas cresciam
sob o alísio 
Eu namorava a alma
das estrelas vagas
sob a febre da noite 
e das águas

Eu estava só
assistindo à grande queda
do horizonte
sobre a claridade
das calçadas

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Resgate



Todos os cães vadios
esperam que a noite 
se entregue
E nos recupere meninos
e nos recupere moleques

Todas as noites sem versos
sofrem a sua natureza
com as canções perdidas
no bolso das velhas camisas

Todas as noites perdidas
vivem a sua profecia
sonham o seu destino
de acordarem dias

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Sexto sentido



Minha namorada
tem cabelos e silêncios
pele de porcelana morena
dilemas abertos
no seu corpo

Minha namorada
tem o sexto sentido
peitos apontados
para o meu delírio


De noite
ela pisa 
nos embriagados
distantes
da terra