Os jarros na manhã
improvisam os pássaros
Os navios ao acaso
improvisam os sonhos
Eu me improvisei
encantado
Ando por ai
reconhecendo em min
um rei que sonha
Os alaridos dos signos
me acompanham
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sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Advento do outono
O outono tem uma sinfonia
Vejo-o com o olhar
dos que sonham
Para o outono nasci
mas me perdi de sua aventura
Não o acho na noite
que construí
não o acho
no advento do verbo
nem no dorso
das canções belas
Para o outono nasci
mas o perdi
no córrego das ruas
e isso deixou sequelas
e deixou-me as mãos largadas
e me trouxe o silêncio
dos pescadores
que tangeu
de mim meus navios
dizem que para a lua
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Terraço do mar
O mar desfazia
meu texto
Com seu tumulto
a esmo
jogava a madrugada
contra mim
que amei
suas gaivotas
que planavam sem fim
pela vida
bicando
sua sinfonia
meu texto
Com seu tumulto
a esmo
jogava a madrugada
contra mim
que amei
suas gaivotas
que planavam sem fim
pela vida
bicando
sua sinfonia
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Jornada
Se a palavra
comporta
o oceano
porque
não fazer dela
uma jangada?
Porque não fazer
dela uma jornada
navegando
no dilúvio
de seu sonho ?segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Seca dos versos
Não havia lagos, mas o silêncio. E um latifúndio de acasos submersos. E uma estação fria, sem mapa. E a seca dos versos não escritos. Não havia tempo, mas um território de ventos e verbos. E uma pequena canoa onde desciam pela grande noite, levando o livro das utopias breves. As que movem o mundo e se ausentam.
Dentro de um transe
Deixaram os cavalos partir. Agora galopam sob a lua e seguem o rastro dos ventos. Vindos das águas e das ilhas, correm pela noite como dentro de um transe. Com seus músculos em sintonia com o mundo, os cavalos não sonham as palavras dos homens. Exacerbados pelo enigma que os consome e lhes concede um tempo breve feito de ternura e fúria.
Pernoites
E não há estação de fuga
pernoite em terras amenas
Os poemas são descuidos
nas horas secas do mundo
domingo, 19 de outubro de 2014
Esta manhã
Esta manhã não tem um plano
fora seu outono
Esta manhã tem o visgo
de outras manhãs
Esta manhã tem o pouso
dos navios sem rosto
o chumaço das águas
e o sopro dos avisos
Esta manhã tem o caos
de uma varanda aberta
e a laje anônima
de um poema
fora seu outono
Esta manhã tem o visgo
de outras manhãs
Esta manhã tem o pouso
dos navios sem rosto
o chumaço das águas
e o sopro dos avisos
Esta manhã tem o caos
de uma varanda aberta
e a laje anônima
de um poema
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Destino incerto
No mar amarrotado
de navios
com seu azul a céu
aberto
eu vi dos conveses
dos dias
um destino
incerto
Vi o que não
compreendeu
o amor
vi além das marinas
e do caos
Com o enigma
da poesia
nos anzóis
frágeis
do dia-a-dia
Do mar sem fim
De que me servem esses navios
que do ofício de existir
não trazem os mapas
descidos do mar sem fim
para a palma
das palavras?
De que me servem
se não me dizem
suas jornadas?
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Precário destino
Há muito que o mar me trouxe
como pele suas algas
Os ventos batem afoitos
nos cascalhos do rosto
Movido por um deus mudo
sigo atento pelas dunas
do areal que ficou
do que um dia foi só água
Há muito que o mar me deixou
como saga seus navios
e suas escunas brancas
com as tarrafas da esperança
Tarrafas
Nunca precisei da lua
como agora
com sua tez clara
a gestar auroras
As redes infinitas
que arremessei
sob as estrelas
hoje são velhas
tarrafas
a resgatar
vidas
esgarçadas
O menino de água
se foi
na curva
da quarta-feira
terça-feira, 14 de outubro de 2014
No Coração da matéria
Quebro a máquina de janeiro
no coração mudo da matéria
pisando estrelas e vísceras abertas
Sigo sem destino
fingindo ter destino
com a alma talhada como pedras
Mas a sombra de um menino me acompanha
diz-me ser eu mesmo antes de mim
Digo-lhe da morte das baleias e ele ri
Acendemos incensos pela noite
acudindo vaga-lumes descuidados
que agonizam no chão áspero da terra
Criamos com a areia do mar a fórmula
de salvar o mundo
usando serragem de estrelas
mas tudo é um sonho
Ele deita o rosto no meu peito assolado
por uma poesia sem dono
e diz ouvir os navios da infância
pergunta-me quem foi Gepeto
pergunta-me o que é o cansaço
pergunta-me sobre sua mãe e seu pai
sobre todos os movimentos dos barcos
que vê e me mostra no horizonte
onde eu
cego pelo hábito de viver incrédulo
não vejo o que sei que lá se encontra
pisando estrelas e vísceras abertas
Sigo sem destino
fingindo ter destino
com a alma talhada como pedras
Mas a sombra de um menino me acompanha
diz-me ser eu mesmo antes de mim
Digo-lhe da morte das baleias e ele ri
Acendemos incensos pela noite
acudindo vaga-lumes descuidados
que agonizam no chão áspero da terra
Criamos com a areia do mar a fórmula
de salvar o mundo
usando serragem de estrelas
mas tudo é um sonho
Ele deita o rosto no meu peito assolado
por uma poesia sem dono
e diz ouvir os navios da infância
pergunta-me quem foi Gepeto
pergunta-me o que é o cansaço
pergunta-me sobre sua mãe e seu pai
sobre todos os movimentos dos barcos
que vê e me mostra no horizonte
onde eu
cego pelo hábito de viver incrédulo
não vejo o que sei que lá se encontra
Outras horas
Estas horas
que se falam
em mim
Que não cabem
no que sinto
porque jazem
fora do que sou
Andam à deriva
do que vivo
na estrada silenciosa
do tempo
Onde navegam
outas horas
que aqui falam
comigo
que se falam
em mim
Que não cabem
no que sinto
porque jazem
fora do que sou
Andam à deriva
do que vivo
na estrada silenciosa
do tempo
Onde navegam
outas horas
que aqui falam
comigo
sábado, 11 de outubro de 2014
Aqui
Aqui
onde o mar
se anuncia
como o prenuncio
de revoadas
Aqui onde as mãos
cansadas terão
vez
Aqui onde tudo
se cala
sob o teor
da madrugada
Aqui, de onde
a noite exala
(do mar)
um país azul
sob o teor
da madrugada
Aqui, de onde
a noite exala
(do mar)
um país azul
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Hastes dos poemas
Só no meu peito
-casebre das estações
perdidas-
guardei as hastes
dos poemas
arrancados
-casebre das estações
perdidas-
guardei as hastes
dos poemas
arrancados
Velho outono
Velho outono ferido pelo país dos caminhos
por ti sitiei cidades e um porto abandonado
onde toda a dor escoava
Por ti vesti uma roupa de sobrados
sob as marquises de um sonho
E quando tudo exauria-se na noite
as almas dos poemas retornaram
como luas embrulhadas em um transe
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Escultura
Escrever versos
é esculpir palavras
Nada que as mãos
do outono
não desfaçam
Escrever versos
é esculpir na pedra
Até que o mármore
da palavra
nasça
é esculpir palavras
Nada que as mãos
do outono
não desfaçam
Escrever versos
é esculpir na pedra
Até que o mármore
da palavra
nasça
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Sobrados da noite
É a noite o que nos fala
com seus sobrados
na alma
São seus trapiches
que movem
essas cidades
de água
É a noite que nos faz viúvos
com a trilha dos sonhos
e os calos dos mudos
Somos a matéria dessa noite
e ela nos deserta e ignora
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Ombro a ombro com um rio
Ombro a ombro
com um rio
que não revela
seus versos
buscamos noite
adentro
a foz de toda
palavra
Por fora
a madrugada
e por dentro
a breu e as trevas
E uma orquestra
de seres
que nos escondem
seus nomes
costeiam toda a paisagem
amenizando-lhe
a marcha
com um rio
que não revela
seus versos
buscamos noite
adentro
a foz de toda
palavra
Por fora
a madrugada
e por dentro
a breu e as trevas
E uma orquestra
de seres
que nos escondem
seus nomes
costeiam toda a paisagem
amenizando-lhe
a marcha
Ônibus 614
O ônibus 614 passou por dentro do tempo
entre as árvores desencontradas da esperança
pela experiência de ser guiado por uma estrela
que também por nós se guiava
pelos corredores azuis da noite
com o mapa do mar no bolso
com o mapa das águas no coração
Mínimos meninos
pisando nos trilhos de um trem que ia da alegria
a Itaguaí
mas que foi desativado
como foram oceanos
bichos, palavras, amores, amigos
lutas, violões, ventanias
entre as árvores desencontradas da esperança
pela experiência de ser guiado por uma estrela
que também por nós se guiava
pelos corredores azuis da noite
com o mapa do mar no bolso
com o mapa das águas no coração
Mínimos meninos
pisando nos trilhos de um trem que ia da alegria
a Itaguaí
mas que foi desativado
como foram oceanos
bichos, palavras, amores, amigos
lutas, violões, ventanias
sábado, 4 de outubro de 2014
Redes de vento
Trabalhar o mar
trabalhar as mãos talhadas pelo tempo
com elas esculpo signos
tenazmente pela madrugada
trabalhar as mãos talhadas pelo tempo
com elas esculpo signos
tenazmente pela madrugada
Com elas movo moinhos
que me movem por países de silêncio
onde espreito as palavras
com minhas redes de vento
que me movem por países de silêncio
onde espreito as palavras
com minhas redes de vento
Essa é a função que exerço
que é a de sempre semear
que é a de sempre semear
Essa é a função que entendo
noite a dentro com as palavras
por estações de vocábulos
e calendários de água
noite a dentro com as palavras
por estações de vocábulos
e calendários de água
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Há quem diga
Há quem diga que o nosso amor
foi como o mar
com infinitos horizontes
onde nos deitávamos
com marinas em torno
de tudo
que nos dizia
respeito
Há quem diga que foi o mar
que nos gerou
quando pisávamos
incautos
os seus tornozelos
de água
Há quem diga
que foi com o mar
que aprendemos
a nos afagar
e a entoar
com suas canções
de roda
a oração
que nos fez
navegantes
Há quem diga que foi o mar
o nosso mensageiro
E todos os poemas
são traduções
de suas águas
e veleiros
foi como o mar
com infinitos horizontes
onde nos deitávamos
com marinas em torno
de tudo
que nos dizia
respeito
Há quem diga que foi o mar
que nos gerou
quando pisávamos
incautos
os seus tornozelos
de água
Há quem diga
que foi com o mar
que aprendemos
a nos afagar
e a entoar
com suas canções
de roda
a oração
que nos fez
navegantes
Há quem diga que foi o mar
o nosso mensageiro
E todos os poemas
são traduções
de suas águas
e veleiros
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