Árido mundo
Sigo o lento caminho da luz.Pássaros dormem na noite
em vigília pelo mundo. Em mim jaz uma palavra seca,
tirada antes da hora do seu rumo. Sigo o lento caminho
da luz, pisando as pedras de um árido reino. Além dos cercados
as horas murmuram contra o silêncio dos muros.
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quarta-feira, 30 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
Estação de dezembro
O tempo é a estação de dezembro
Onde os ventos chegam insones
E em seu convés habitamos
Como num rápido outono
E nesta viagem em que estamos
momentos são sedimentos
E os suprimentos que temos
são das colheitas dos sonhos
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Quando
Quando
eu envelhecer
e
os versos forem só a minha morada
já
não andarei na terra para lutas
mas
para plantar palavras
Quando
envelhecer
guardarei
teu rosto
que
é o navio da minha alma
entre
as samambaias do tempo
que
o tempo também tem safras
onde
colho meus poemas
que
crescem a cada estação
assim
como te colho
a
cada dia que passa
nas
terras do coração
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Nas calçadas
Navegaremos
por cidades perdidas
Com
o barro inesperado dos dias
faremos
o inventário do outono
Olhando
as estrelas a velar nossos sonhos
resistiremos
E
ombro a ombro com nossas vidas descalças
inventaremos
nas calçadas da noite
o
escape do nosso degredo
Longe das estrelas
As palavras que agora nos separam são as mesmas que um dia usamos ao
andar de mãos dadas, no nascimento do mundo. Longe, longe das
estrelas, aqui estamos sem mais o que dizer, já sem as palavras, que
um dia foram os primeiros passos e acalantos que te encantavam e que
retornavam a mim, através de teus braços. Agora, só o áspero silêncio enlaço e ele me devolve o mesmo
roteiro de estrangeiro, de onde parto novamente para outro
cais, além dos mapas náuticos, para outro cais, além dos mares e
da noite e da desventura de te perder.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Relógio
Que relógio é este
batendo
às cinco da tarde
entre as folhagens do tempo
e
as ramagens do nada?
É
a noite que o fita
e
os homens o habitam
em
sua febril batida
nas
avenidas das almas
É
a noite que o tece
em
suas horas cansadas
onde
a gestão da vida
em
nosso rosto se talha
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Araguaia
Na mata o silêncio
com sua orquestra de sombras
bichos secretos falam a língua
do Araguaia. São assombrações ou homens
os que se arrastam no chão?
A noite desce quebrada sob a mata devassada
onde se arma a palavra, agora em forma
onde se arma a palavra, agora em forma
de bala. São assombrações ou homens
os que se arrastam no chão?
São vaga-lumes errantes
ou são homens do sertão? Ou são os filhos do mundo,
que se embrenharam na mata, com a
paixão amolada e certezas inexatas?
Na mata o silêncio fala e os codinomes são muitos
e todos os gatos são pardos, na noite do Araguaia
onde a linguagem é de guerra, e ama-se ao relento
sob o silêncio dos muros, por dentro da mata densa
da disciplina férrea, ama-se dentro da guerra, porque a
vida é uma pétala, acesa como uma floresta, que
logo será extinta como outras, como tantas, feito um
caule de esperança refeito, e fraturado, na madrugada
densa, refeito e fraturado.
Onde há dúvida há cansaço, e a dúvida nada gera.
É necessário avançar, mesmo que na pátria selva,
para os combates sem trégua, para amordaçar a
morte, e sangrar dela o veneno.
Mas a morte é uma raposa que se alimenta de todos.
Aos descuidados e tolos, a morte, que reserva um abraço,
pisa quase em silêncio, range seus tentáculos , satélites
azuis espreitam, luzes escuras enxergam,
A mata era um ser arisco, com olhos de vidro nas
águas, anônimos, demoníacos, disseminados nos
bichos.
Francisco Orban
Postado por Francisco Orban às 15:
Precário destino
Há muito que o mar me trouxe
como pele suas algas
Os ventos batem afoitos
nos cascalhos do meu rosto
Movido por um deus mudo
sigo atento pelas dunas
do areal que ficou
do que um dia foi só água
Há muito que o mar me deixou
como saga seus navios
e suas escunas brancas
com as tarrafas da esperança
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Outras mãos
Esquece
as palavras que invento
meu
amor
Amanhã
outras mãos
abrirão
tua carne
tua blusa
Nada
teremos a favor
de
nós
Eu
que te elegi no dorso
de
um poema
que
a noite me assegurou
com
seus navios
no
horizonte
tateio
agora o nada
que
me reserva o tempo
A
indiferença da tua boca
porque
é o tempo com seu crepúsculo
o
que nos aparta
para
longe do aroma
do
teu rosto
domingo, 13 de abril de 2014
Barcos
Só
agora me dou conta
os
barcos de luzes passavam
o
tempo passava em braçadas
com seus veleiros perdidos
sábado, 12 de abril de 2014
Na curva do rio
Jogaram
meu coração
na
curva do rio
Em
seu lugar
nasceu
uma árvore
de
madeira de lei
mas
sem a voragem
dos
que percorreram
outonos
em transe
sem
a folhagem
que
cobria os canteiros
da
terra
sem
a fé dos dançarinos
de
Deus
De
extinção entendo eu
esse
que segue
sem
seu coração
de
menino
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Face secreta
Lido com a face secreta do mar
Aqui as pedras secam sob o outono
A sombra de um poema fica
Como saga de navegações
Outono ferido
Velho
outono ferido pelo país dos caminhos
por
ti sitiei cidades e um porto abandonado
onde
toda a dor escoava
Por
ti vesti uma roupa de sobrados
sob
as marquises de um sonho
E
quando tudo exauria-se na noite
as
almas dos poemas retornaram
como
luas embrulhadas em um transe
Semblante de água
De que fala esse homem
com seu semblante de água
imóvel velejando
nesse escombro de sonho
De que fala esse homem
nessa cidade de prata
sobejo de agosto na boca
redemoinho sem rosto
De que fala esse homem
com sua utopia sem nome
e o beijo de uma fada
embrenhado no corpo
com seu semblante de água
imóvel velejando
nesse escombro de sonho
De que fala esse homem
nessa cidade de prata
sobejo de agosto na boca
redemoinho sem rosto
De que fala esse homem
com sua utopia sem nome
e o beijo de uma fada
embrenhado no corpo
sexta-feira, 4 de abril de 2014
O Poema do encontro
Dentro
da noite desordeira
mudas
as palavras velejavam
Eram
as vozes
do
mar e das águas
que em nós
faziam
itinerário
Assim
eu passei a amá-la
janeiro
nascia nas ruas
tecidas
de favos da lua
assim como seu rosto que eu amava
Assim ela me viu
Assim ela me viu
em
meio a imensidão
que
o mar tangia
Ao
longe os atabaques assistiam
a
noite sitiada de surpresas
de
modo que ao dizer
que
a queria
ela
para mim sorriu
e tudo renascia
na noite já cercada
pelo dia
na noite já cercada
pelo dia
terça-feira, 1 de abril de 2014
Barco sem cais
Como um barco sem cais
refaço o percurso
que nos apartou
As ruas escorriam pelos dias
e o mar era o nosso destino
O pão nosso de cada dia
era o nosso amor
E assim, livres
com as mãos atadas
pelo estado de comunhão
que nos supria
seguíamos
sem sequer suspeitar
seguíamos
sem sequer suspeitar
que o tempo
era uma armadilha
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