TODO APOIO À ESCRITORA ROSEANA MURRAY
GRAVEMENTE FERIDA POR ATAQUE DE PITBULLS
EM SAQUAREMA
FIM DA COMERCIALIZAÇÃO E PROCRIAÇÃO DESTA RAÇA DE CÃES NO BRASIL.
TODO APOIO À ESCRITORA ROSEANA MURRAY
GRAVEMENTE FERIDA POR ATAQUE DE PITBULLS
EM SAQUAREMA
FIM DA COMERCIALIZAÇÃO E PROCRIAÇÃO DESTA RAÇA DE CÃES NO BRASIL.
Eis a prova de que janeiro antecedeu o mar, quando navegávamos errantes em um mundo que antecedia os nomes. Eis que janeiro nos navegou pelos barcos dos acasos e já não há como voltar. Eis que Janeiro se desdobrou e trago nos olhos o êxtase de sua estação. Agora quero abraçar janeiro, sem as neblinas que se tornam antolhos. Se assim cegos voltam os navios negreiros, se assim cegos não teremos mais enseadas, se assim cegos restará uma longa espera. Um dia sangrei os navios e depois os desovei no mar. Um dia desci pelo quebranto da aurora. Janeiro não pertence mais as águas. Janeiro agora é só uma cilada. O escalpo aguado de um sonho.
Precários são os
andaimes
desta vida
desgarrados
minha jornada é
por demais densa
para a minha
alma alada
Pois me encantei
com as palavras
que em mim
pousam em silêncio
e não há porta
ou janelas
para tange-las
de perto
Elas são os meus
navios
com que navego
no incerto
Esta rua sempre
esteve aqui
e nos esperava
com suas calçadas
alagadas de
madrugadas
Sempre; mesmo
antes de existir
ela já se
plasmava no sonho
de algum
passante
que a pressentiu
e a sonhou
infinitas vezes
para que ela
assim se erguesse
feita de sonho e jasmim
É uma estrela cadente
uma mulher solar
De perto uma menina
vestida só de luar
Assim como as sereias
que regem as águas do mar
Fez ela em meu coração
por não podê-la abarcar
essa dor que não se encerra
sempre a passar sem passar
(Poema dedicado a Ana Carolina)
Não sou eu que
escrevo o poema
mas este
inquieto espírito alado
desgarrado das
ânforas do infinito
Aqui, há muito
tempo a acompanhar-me
Não sou eu que
os escrevo
quando o mar
bate em mim como costados
e me oferece dos
búzios seus enredos
e águas
sussurradas
Não sou eu que o
escrevo
mas este ente
sempre inalcançável
que me fala pela
alma dos barcos
e me concede
paisagens
para logo
transmutá-las em estiagens
Quantas palavras
pesquei
no indizível
Para viver eu
segui
os acenos do mar
e tentei
alardear
sua conspiração
com o azul
sua sujeição à
aurora
e açudes
imprevisíveis
Mas para achar a
radiância
me fiz valer da
poesia
Ela me traz os
barcos
que me levam às
dunas
do sagrado
Não aplume a
vela das jangadas
deixe os ventos
do mar cumprir essa jornada
Pois elas
tangenciam e colhem o sal do mundo
e tu só tens os
remos das palavras
Portanto não
afronte os horizontes
pois eles são a
morada das águas
e se esses ventos
hoje salgam os dias
amanhã te darão
uma enseada
A noite arada pelo vento te afaga com seus elementos, mas os teus olhos sobre a laje branca já nao tem o ar cansado dos passantes. Em ti ancoram ínfimos os navios dos teus poemas, mas estás aqui alheio à multidão de signos. Tens por fim somente a companhia de teus versos que nesta madrugada pousam leves como bichos ariscos de outros universos.
Se a dor não passa
adorne-se com os poemas
e a brandura com que
aquecem
a imprecisão cruel
do mundo
Tudo é uma matemática
clara
no chão da poesia
onde a vida desconhece
as coisas que não amanhecem
A mulher que acorda os pescadores
Levanta-se cedo para fertilizar o mundo
Levanta-se suada e linda, antes do nascer do sol
com as palavras que a saciam já entranhadas
na carne, mas que desconhecem sua alma de menina.
A mulher que acorda os pescadores finge não saber
o que os poetas sabem
Aqui te entrego o meu corpo cumprido
Os olhos já opacos sem mais brilho.Os braços
sem os músculos do olimpo. Uma tímida barriga
debruçada. Uns cabelos ralos desgarrados.
Te entrego minhas mãos cansadas, com as manchas
senis das estradas. As longas memórias
remotas.
Os curtos descuidos dos instantes
e uma alma errante e adestrada
para dublar o já vivido
Eu pisava no firmamento e chovia
Alegorias de cães quebravam a ordem do dia
Os chumaços dos avisos/que eu derramei pelo
tempo
passaram a me nomear. Sem me dar conta. Sem acatar
contas
Nobre é esta relva em que me deito na
contramão do azul.
No leito dos últimos dias. Foi quase uma
intenção sacrificar
Os pássaros
Não poderia
fazer teu retrato
porque teus
olhos tristes
não cabem
nesta moldura. Teus olhos tristes
inundam o
mundo. Transbordam da tua alma
de menina
errante,destas pequenas cidades
onde as
adolescentes minguam e pode-se ver
as estrelas.
Teus olhos tristes te desnudam
em plena luz
do dia
LIVRO RECOMENDAÇÔES AOS SONHADORES
Francisco Orban
(6 de janeiro de 2024)
Se ser do mar é destino
o que dizer da jangada
de toda jangada do mundoVocê me prometia a eternidade
Por isso eu andava
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Do livro "Recomendaçonhadores" de Francisco Orban
Do deserto também
nascem pássaros.Não havia lagos mas o silêncio. E um latifúndio de acasos submersos. E uma estação fria, sem mapa. E a seca dos versos não escritos. Não havia tempo mas um território de ventos e verbos. E uma pequena canoa onde desciam pela grande noite, levando o livro das utopias breves. As que movem o mundo e se ausentam.
Já não te aguardo
foste levada
pelos navios de agostoEu me quedo
com os ossos fatigados
Não foi o homem cego
que não atravessou a cidadeNão é porque dormes
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Deixaram os cavalos partir. Agora galopam namorando a lua e seguem o rastro dos ventos. Vindos das águas e das ilhas, correm pela noite como dentro de um transe. Com seus músculos em sintonia com o mundo, os cavalos não sonham as palavras dos homens. Exacerbados pelo enigma que os consome e lhes concede um tempo breve feito de ternura e fúria.
Esse encontro com o mar
não foi acaso;
Eu estive no jardim sem fala
dos esquecidos
e atirei pedras
no grande saguão
da ordem implantada
E me lembrei da vida
dos ciganos
entre milhões de carros
estagnados
E minha gente assistiu
à morte do mundo impossível
e molhou a mão em vastos
horizontes
para acordar em valas
Se esta rua fosse minha
não seria este alagado
de carros e vidas
provisórios
Eu a pontuaria
com os acordes dos violinos
da terra
e em cada esquina ergueria
um parque
com bancos para os homens
sentassem
e pausa para que meditassem
sobre o que fizeram
Se fosse minha
eu a cultuaria com os vinhos
do mundo
e ergueria em cada esquina
um teatro
para que as mulheres com seus
encantos cantassem
pelos que vão nascer
Só no meu peito
- casebre das estações
perdidas
guardei as hastes
dos poemas
arrancados
Navios do mar
Quanto navios recostavam
no teu rosto
quando eu te amavade Francisco Orban
Levavam a mirra
Se os veleiros
não nos seguirem mais
pelo mundo
outras palavras nomearão
as coisas
Uma velha roupa de madrugadas
não terá mais sentido
e os vínculos com os sonhos
estará desfeito
Mas o que impediria os veleiros
de permanecer tão janeiros
em sua vigília de brancas velas
no mar amarrotado de ventos
Do livro de Francisco Orban, Recomendações aos sonhadores, (Ed 7Letras)
Vejo em teu rosto
uma integridade tão bela
que a mim me pergunto
A noite por dentro das horas e do amor
e os rostos deitados no chão do mundo
Assim caminháva-se