Total de visualizações de página

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Paraty





Naquele momento, olhando o mar com seu dorso amarrotado pelo vento, restabeleci novamente meu diálogo com Paraty e seu passado. A cidade fora então um lugarejo perdido de onde escoara o ouro. Suas igrejas loteadas dividiam os habitantes: uma para os senhores,outra para os mulheres brancas, esta para os mestiços e negros escravos
Num mundo injusto e segregado, a cidade era assim repleta de insetos e dejetos atirados nas ruas, sobre as calçadas de pedras trazidas de Portugal pelos navios. Pedras que não foram tantas quanto as pepitas de ouro extraídas pelos negros expatriados, que ,aqui, como escravos, também foram de suas vidas arrancados.
Assim chegamos do futuro a esta cidade pousada no azul como uma nave de luz no chão do mundo, toda feita de leveza pelos poetas que a restauraram e a reinventaram. Eles que foram os que possibilitaram a sua permanência, como se encontra, assim como seus fundadores que um dia conspiraram para que ela existisse assim como uma pétala. E desta maneira a vemos, com os nossos olhos transmutados pelo hoje, na ilusão de que Paraty de alguma forma tenha sido sempre esta que agora vivenciamos. É que, naquele mundo brutal, suas paredes já foram erguidas como são e talvez ela existisse assim, como veio a se tornar, posto que embrionariamente já existia no coração dos homens.




















Nenhum comentário:

Postar um comentário