Total de visualizações de página

segunda-feira, 21 de março de 2016

Profecia



´

Quando voltar janeiro

e os versos escondidos pelas palavras

banais renascerem

nos acharemos por fim

com as mãos pousadas

sobre o açude das certezas

e novamente sob a imensidão

o nosso amor terá 

mar  e chão

segunda-feira, 14 de março de 2016

Altares

Estávamos todos integrados naquele bar caído. Pé-sujo da pior espécie bebendo álcool que é o sangue dos deuses esquecidos, ouvindo um hino de Paulinho da Viola, a que chamam apropriadamente de samba, e que nos fazia  irmanados, naquele sentido maior de estarmos vivos. Estávamos ali unidos sob a toga da noite, para sempre filhos de um mesmo sentido oculto de existir, que ali se anunciava em pequenos atos. Estávamos assim instalados no afago daquele momento absoluto a redimir a imprópria soberba que o álcool atiça, com palavras ao acaso, e gracejos dispensáveis em outros ambientes, mas que ali eram adornos perfeitamente necessários. Estávamos assim, dispersados da passeata chamada mundo, e recostados naquele pequeno palco do planeta denominado por alguns de boteco, mas que para nós era mesmo um altar, onde celebrávamos o mistério daquele momento, cada um a sua maneira, ouvindo um samba de raiz, que são as canções dos combatentes e sonhadores do mundo.

                





quarta-feira, 9 de março de 2016

Lua




Uma lua de prata pousava em seu rosto Não era agosto, não era nada. Só a lua de prata que o seguia. Então quis deixá-la, arrancá-la do norte da alma, mas ela com sua ausência o buscava. Viu então  que tinham remos e um rumo ao outro remava. Viu então que tinham os rostos da natureza das águas. Tentou esquecê-la, mas ela retornava; tentou então esquecer-se, mas sempre voltava para si. Tentou por fim dar-lhe o mar. O mar e seu país azul, os búzios de uma ordem naufragada. Mas nada foi possível. Então fugiu para dentro da noite, com os seres debandados de um sonho. E foi pior; na noite a lua reinava.

Constatações





Nunca move-se o poema
para onde o tanjo
e de suas revoadas
só guardo arranjos

Do sumo das palavras
que o consome
só retenho vagos cantos
que lembram veleiros
sem nome
ao sabor dessa
alquimia
a qual chamam
poesia

              Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Nossas mãos








Só a palavra não basta
para expressar um verão
Falta a água
e seus corredores
salinos
Falta o mar
e seu país azul
em nossas mãos suadas
egressas de um sonho

terça-feira, 1 de março de 2016

Altares


Estávamos todos integrados naquele bar caído. Pé-sujo da pior espécie bebendo álcool que é o sangue dos deuses esquecidos, ouvindo um hino de Paulinho da Viola, a que chamam apropriadamente de samba, e que nos fazia  irmanados, naquele sentido maior de estarmos vivos. Estávamos ali unidos sob a toga da noite, para sempre filhos de um mesmo sentido oculto de existir, que ali se anunciava em pequenos atos. Estávamos assim instalados no afago daquele momento absoluto a redimir a imprópria soberba que o álcool atiça, com palavras ao acaso, e gracejos dispensáveis em outros ambientes, mas que ali eram adornos perfeitamente necessários. Estávamos assim, dispersados da passeata chamada mundo, e recostados naquele pequeno palco do planeta denominado por alguns de boteco, mas que para nós era mesmo um altar, onde celebrávamos o mistério daquele momento, cada um a sua maneira, ouvindo um samba de raiz, que são as canções dos combatentes e sonhadores do mundo.

                FRANCISCO ORBAN