Total de visualizações de página

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Bea

Bea



Para Maria Beatriz Colapietro

(In memorian)


O mistério da tua morte
Não reside aqui
nas luzes dessa cidade
onde as águas e as marinas
não falam de sua passagem
Em vão te busco nas ruas
mas elas não me devolvem
a tua imagem encantada
Estiveste aqui sim
e andávamos nas ruas
no delírio das ruas
quando as tuas mãos eram um cais
e as minhas faziam ensaios
no teu corpo
Francisco Orban

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Rebentação



Lido com a rebentação do mar
Aqui as pedras secam sob o outono
a sombra de um poema fica
como saga de navegações
A cerração do verão sobre as certezas
A pele da aventura
sobre  o corpo
da noite

Lido com o hálito
de uma estrela
e seu sentido
a iluminar
meu rosto

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Extinção


                                 

  Outubro está solto. Entre as unhas, a pele do teu rosto. Também as garrafas que joguei ao mar não voltaram com o teu nome em um velho verso. Não voltaram e fizeram deste ato um jeito de navegar. Também naveguei de mim. Para longe do que sou e do meu amor por ti. Para os territórios da renúncia, onde moram os viajantes da espera. Isso me soprou um dia o mar, através de um de seus mínimos seres. Um búzio expelido das águas, com sua caixa de música, que ainda levo aos ouvidos, a sussurrar você.

Calçada das horas






  Salta a lua na noite. Tudo é a imensidão do agora. Aqui estou no epicentro de um rio. Mas a mão de uma menina me busca e me leva para a calçada das horas. Em sua tez sinto a tez das águas. Ela me diz dos caminhos do mundo, onde a esperança deságua. No meio da chuva estava o amor, como uma granada calada. Levou-me pelas ruas do tempo, onde os piões e as palavras dormem ainda em estado nulo. Salta o crepúsculo sobre muros e brotam poemas que se guardam.  Ao ir-se com um beijo em meu rosto, me diz que não há abismos, apenas canções descuidadas

Enseada de água











No dia em que vi você o equilíbrio e o caos
se encontraram no mundo. Percebi que peixes
se aproximavam, o sol me acompanhava e todas
as pedras ficavam mudas porque você as pisava.
Vi que os caules dos poemas tornaram-se
sólidos com sua presença feminina e seu olhar
gerava controvérsias sobre um Deus solar
que nos guiava. Vi que pisavas vagalumes incautos
e sua boca lembrava-me a de alguma fada urbana
desgarrada. Neste dia percebi que nosso amor
aportava numa enseada de água

Tua ausência





Com que mãos desfazes
o que poderia ?
A noite acaba
por dentro do mar
Os frios caminhos
dos navios
tu os desfazias

E eu me deitava contigo
nos horizontes
dos teus braços
abertos

Por que agora partes?
que triste ventania
faz-te virar-me as costas
Com que braços
sustentar
a tua ausência
assim anunciada

com um beijo?

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Teu rosto




Como um navio ancorado
meus sentimentos estalam
nos estaleiros da tarde
onde teu rosto aparece
belo e sem fim


É curta a vida para seus naufrágios
é larga a nau dos desencontros
Como os muros do adeus retornaram
como se tornaram labirintos largos

São para ti os meus poemas meu amor
É com eles que te ofereço as palavras
buscadas num lugar raro do mundo

Para que o nunca dê lugar ao sim
e os navios possam ganhar os mares



quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sobre o mar

          

O mar
e seus lençóis de vento 
Suas calcárias
noites
e seu silêncio
ruidoso 

O mar e seu tormento
que passa
suas dunas de água
e sua praça
principal

O mar
e seu molambo de lua
sua procuração
de lama
e seu diluvio azul
na ordem oficial

O mar
e sua estação de falas
e seu perfume não nascido
do planeta em que fomos
meninos

O mar
e sua libertação provisória
seus navios à deriva
entranhados
na memória da orla

O mar
e sua vida íntima
seu vento salino
salpicando nas canções
banidas

O mar como uma país
de esquinas
afogando seus afogados

O mar como o grande
senhor de tudo
sobre a cidade
que o situa
sitiada


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Por nossas mãos

Só a palavra não basta
para expressar um verão
Falta a água
e seus corredores
salinos
Falta o mar
e seu país azul
em nossas mãos suadas
egressas de um sonho
Como se tudo o que falamos
ficasse contido nesta
estação 
que habitamos


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Casca da claridade



 

 

Se tirar da claridade
a sua casca
surgem as palavras
que escapam do outono
quando não adestradas


Pois os poemas são orações
para adormecer as crianças
e lembrar aos homens
que as tardes
são como canções breves

Os poemas são pássaros
de claridade
que carregamos
nos bolsos da alma

Mistérios



Uns dirão que a palavra

é só um nó 
de água 
momentâneo
Ou que são pássaros
em revoada 
de um sonho

Mas nada se sabe
A vida é mistério
O amor é mistério
e a palavra
um dos maiores 
mistérios