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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Beijos e danos


Agora diante das ilusões mortas
resta puxar a carroça sem rodas
dos danos
Com as costelas expostas 
e o verbo viver já surrado
resta  alimentar-se
dos resquícios dos nossos beijos ´
resvalados 
Eu que te amei fora das estações
do desencontro 
não distingo as palavras que te trariam de volta
E não adianta dizer meu amor
porque a voz (como num sonho)não acompanha o pensamento
e para ti a palavra amor vinda de mim já não é nada
ou talvez só te remeta à esta carroça 
no meio desta estrada sem volta

            Francisco Orban

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Tempo


Eu a amava
e todos os silêncios
nos cercavam
e era quarta feira
à beira de um carnaval
onde lanternas suaves
eram penduradas nas ruas
e algazarras ordenavam-se
nas almas dos homens
Eu a amava
Mais a imaginando do que vendo
e nossas vozes formavam uma sinfonia
pela força do hábito
de nossos entrelaçados cotidianos
de beijos e abraços
e palavras ternas proferidas
E quando nos apartamos
parecia ser só o tempo de um dia
Mas ao tempo de um dia seguiu-se outro
e a este outro somaram-se noites
E assim tem sido
Como se não soubéssemos
que o tempo é uma armadilha

Rio de Janeiro




Noite densa de falas e pontes
que país sangrado é esse
de falsos horizontes e profetas?

No meu tempo não era bem assim,
meus inimigos tinham a cara aberta
meus amigos banhavam-se na maresia
os bondes passavam sob as pontes de luzes
do Rio de janeiro
e cantávamos as canções que todos sabiam 


No meu tempo não era bem assim
as luzes do Rio de janeiro nos diziam
um animal de sonho espreitava a vida oficial
que se vivia 
e amávamos  as pontes de luzes do Rio,
que eram de marfim e eu não sabia.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mercado


Vendo na feira
dezembros e quartas-feiras
trazidos do território
da grande noite
inacabada

Terras do coração



                        

Quando eu envelhecer
e os versos forem só minha pousada
já não andarei na terra para lutas
mas para plantar  palavras
Quando envelhecer
guardarei teu rosto
que é o navio da minha alma
entre as samambaias do tempo
que o tempo também tem safras
onde colho meus poemas
que crescem a cada estação
assim como te colho
a cada dia que passa
nas terras do coração

Tempo


O tempo corria aberto como um cacto sangrando tangiam hordas de vento as nossas vidas andaimes Subíamos por seus trapiches como trapezistas breves tal qual inquilinos errantes de um plano inumano

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

No coração da matéria


Quebro a máquina de janeiro
no coração mudo da matéria
pisando estrelas e vísceras abertas
Sigo sem destino
fingindo ter destino
com a alma talhada por pedras
Mas a sombra de um menino me acompanha
diz-me ser eu mesmo antes de mim
Digo-lhe da morte das baleias e ele ri
Acendemos incensos pela noite
acudindo vaga-lumes descuidados
que agonizam no chão áspero da terra
Criamos com a areia do mar a fórmula
de salvar o mundo
usando serragem de estrelas
mas tudo é um sonho
Ele deita o rosto no meu peito assolado
por uma poesia sem dono
e diz ouvir os navios da infância
pergunta-me quem foi Gepeto
pergunta-me o que é o cansaço
pergunta-me sobre sua mãe e seu pai
sobre todos os movimentos dos barcos
que vê e me mostra no horizonte
onde eu
cego pelo hábito de viver incrédulo
não vejo o que sei que lá se encontra