Total de visualizações de página

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Dezembro





Dezembro não pertence mais às águas
agora é só uma notícia
uma casca da madrugada
descida da árvore do tempo

Dezembro não vem mais com o vento
e em minha pele trava embates
com as marcas de outras estações

As palavras ancoradas nas marinas
do mundo
também acolhem dezembro
Só pelo hábito
de afagar seu rosto

Jornada




Por ter a imensidão como jornada
mas não as mãos para abarcá-la
abstive-me de ser seu remador
no barco adernado dos acasos

Por ter a imensidão como empreitada
mas não os arreios para lhe dar
prumo
abstive-me de ser seu navegador

Agora sigo mudo
com uma velha mochila abarrotada
de claridades do mundo

             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

domingo, 27 de dezembro de 2015

Remadores






Remavam com os braços
das águas
pela tez dos ventos
com os músculos do tempo
e das lembranças
Remavam porque esta era a saga
a ser vencida
e iam esculpidos pelo nada
a fazer a jornada
das vidas vividas

Remavam porque remar
era nascer
Até que na foz do horizonte
já não se perceberam barcos
mas pássaros já capazes
de ganhar a imensidão

Então se foram pelo azul
em campo aberto
e se não fossem pássaros
diria que eram um homem
e uma mulher

Diria que voavam para o amanhecer
de si mesmos´

             Do livro "No país dos estaleiros" de Francisco Orban

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Reis magos




Levavam a mirra 
para o que ainda nasceria
com a terra sob os pés
e águas diluvianas próximas

Dentro do corredor da noite
levavam nas mãos
a palha dos anos
o rosto crucificado
de um Deus 
        
Não fosse a ordem
que os fazia caminhar
pelo deserto
seriam outros

Não guardariam em si
as dunas silenciosas
da imensidão 

                  Francisco Orban

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

ebooks Francisco Orban


ebooks - O Aparador de sonhos - Realismo mágico




        http://99ebooks.net/download/o-aparador-de-sonhos/

Tradução


Um homem 
não trai seu sonho
nem o deixa
sem o abrigo
da tarde

Assim o tem
como vestimenta
que não o deixa mentir
que o resgata 
do abate

Um homem traduz 
seu sonho
na sua forma
de cumprir a tarde

Como se sonhar
fosse só um ato
e não um difícil
encargo

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Face secreta




Lido com a face secreta do mar
Aqui as pedras secam sob o outono
A sombra de um poema fica
como saga de navegações
A cerração do verão sobre as certezas
A pele da aventura
sobre  o corpo
da noite

Lido com o hálito
de uma estrela
e seu sentido
a iluminar
meu rosto

Remadores





Remavam com os braços
das águas
pela tez dos ventos
com os músculos do tempo
e das lembranças
Remavam porque esta era a saga
a ser vencida
e iam esculpidos pelo nada
a fazer a jornada
das vidas vividas

Remavam porque remar
era nascer
Até que na foz do horizonte
já não se perceberam barcos
mas pássaros já capazes
de ganhar a imensidão

Então se foram pelo azul
em campo aberto
e se não fossem pássaros
diria que eram um homem
e uma mulher

Diria que voavam para o amanhecer
de si mesmos´

             Do livro "No país dos estaleiros" de Francisco Orban

O Aparador de sonhos

O APARADOR DE SONHOS

                    Francisco Orban

O menino entrou pela casa com o Aparador de sonhos nas mãos. A princípio o bizarro artefato só meu causou curiosidade. O Aparador de sonhos era um pequeno objeto xamânico , constituído de  uma diminuta argola revestida de uma rede, e ornamentada com uma pena de ave em forma de haste. Rezava a lenda  que os sonhos maus ficavam ali para sempre retidos. Eu, com o meu realismo, estava no século XXI, num mundo abarrotado de razão, equações quânticas  e máquinas de toda ordem, mas ele com seus oito anos, estava no primeiro século da história humana e para a sua mente o aparador de sonhos era uma realidade tão concreta, quanto os alaridos dos milhões de carros que corrompiam a tarde  e as ruas em torno de nossa casa. Durante quase uma hora conversamos e o menino dissertou sobre a profunda necessidade daquele artefato lírico, capaz de retirar dos homens os tormentos do inconsciente e lhes devolver a paz dos verdadeiros sonhadores. Aos poucos fui envolvendo-me com seus argumentos, embora reconheça que no início minha aquiescência era mais uma estratégia para lhe fazer contar seu sonho.       Acho que fui conquistado pela candura dos que creem. – se não acredita faça você mesmo a experiência- disse-me então o menino, em certo momento com a voz quase chorosa. Então aceitei o desafio. Levei o Aparador de sonhos para casa, cercado de toda sorte de recomendações, pois o mesmo não funciona próximo às pessoas ressentidas, nem nas mãos dos que se perderam de si mesmos. Em casa coloquei o pequeno artefato em cima da cômoda e dormi exausto. Ali estava eu, fora da área de conforto da razão, quando acordei na manhã seguinte com uma disposição que não tinha há anos. Na noite seguinte...  (Continuação no link  abaixo)



https://www.amazon.com/aparador-sonhos-Portuguese-Francisco-Orban-ebook/dp/B010TYB46K



segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Atabaques






O mar quebrava
nas calçadas
E os atabaques
sitiavam
O que em nós
era outono
e madrugada

Noite adentro




Estou aqui
onde o vento traz
a noite
e há lendas
e almas que escutam
Aqui entre os tambores
dos versos
sob a lua nua
Aqui
tocando a face salgada
de uma estrela

Aqui nesta noite
regida pelas sinfonias leves
E que há de novo
entre o mar e a treva?

Nada
além da palavra
árida
e incompleta

Longe das estrelas








As palavras que agora nos separam são as mesmas que um dia usamos ao andar de mãos dadas, no nascimento do mundo. Longe, longe das estrelas, aqui estamos sem mais o que dizer, já sem as palavras, que um dia foram os primeiros passos e acalantos que te encantavam e que retornavam a mim através dos teus braços.  Agora, só o áspero silêncio enlaço e ele me devolve o mesmo roteiro de estrangeiro, de onde parto novamente para outro cais, além dos mapas náuticos, para outro cais além dos mares e da noite e da desventura de te perder.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Olhar de pescador


Meu olhar de pescador
desconhece o vento
E sob o designo do azul
escrevo um verso
Se estou perto de Deus
não sei ao certo
Aqui os flamingos
desconhecem  o tempo
e planam  sobre o mundo
a céu aberto

Eu voo sob os braços do eterno
em mim tão perto
e obscuro

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O poema de amor





Muitos poetas te amaram
mas eu te amei muito mais
porque estavas
no coração selvagem das estações
do mundo
e as amarras que nos apartavam
sob o teu olhar desatavam-se
e tudo era o nascimento
da encantação

Muitos outros te amaram
mas eu te amei com meu amor sereno
e pousei uma flor
na palma da tua mão
E plantei um beijo no teu sorriso
e tu cobriste de doçura com os teus gemidos
o que era o início do mundo

Muitos te amaram
mas só eu segui contigo o caminho das águas
quando meu amor louco ressoava
e fazia debandar os navios


 Sol das esperanças
mar dos horizontes amarrotados de barcos
Aqui estou assolado pelas multidões de dias
e dos caminhos que encontrei pelo mundo

Ouça meu amor este poema
agora que o crepúsculo nos assedia
aceno para ti como sempre acenei
Incansável


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Casas de Fortaleza




As casas pelo caminho
o tempo não assentara
se foram sem vestígios
das nossas vidas aladas

As casas traçavam as ruas
teus olhos tudo fitavam
corríamos pelas vielas
das coisas desencontradas

E tudo se foi pelo mundo
e escorreu para o nada
como as maças cor de sangue
nesta noite desabada
como um relâmpago azul
nos haras da madrugada

               

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Nacos





O naco deste Outono
seria a senha de um sonho
embora a noite o tenha
para os planos submersos
de outra estação

A noite o tem
para ostentar a imensidão
sem a pulsão contra a qual
se batem as aves e os andarilhos
de outro amanhecer

O naco deste Outono
é o que trago nas mãos

           

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Gaivotas



Do céu as gaivotas nascem
chegam das grandes migrações
a rastrear mares e peixes
que não as percebem sagazes

Do céu observam tudo
em regresso de marinas
de outros mundos
sob o afago
da imensidão azul
que se alastra

Sobre o mar planam leves
enquanto os pescadores se debatem
com seus versos tarrafas
e cansaços

                 Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Remadores




Remavam com os braços
das águas
pela tez dos ventos
com os músculos do tempo
e das lembranças
Remavam porque esta era a saga
a ser vencida
e iam esculpidos pelo nada
a fazer a jornada
das vidas vividas

Remavam porque remar
era nascer
Até que na foz do horizonte
já não se perceberam barcos
mas pássaros já capazes
de ganhar a imensidão

Então se foram pelo azul
em campo aberto
e se não fossem pássaros
diria que eram um homem
e uma mulher

Diria que voavam para o amanhecer
de si mesmos´

             Do livro "No país dos estaleiros" de Francisco Orban

Estuário




Esta cidade aderna
sobre o mundo
e seu parapeito

Coberta com a cal
das horas
e dos solares dias
seu enredo

Assim se apresenta
-um milharal de luzes
na noite-

Frente ao mar
mas não a afrontá-lo
e sim como se dele fosse
o estuário

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Paletó feito de Outono




No pátio
dos sentimentos
guardo um paletó
feito de outono
Invisivelmente azul
dentro da noite
onde guardo o nódulo de um sonho
Aqui com as mãos crispadas
de sessenta e poucas estradas
e umas utopias vagas
das quais ninguém já fala

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Jornada



Por ter a imensidão como jornada
mas não as mãos para abarcá-la
abstive-me de ser seu remador
no barco adernado dos acasos

Por ter a imensidão como empreitada
mas não os arreios para lhe dar
prumo
abstive-me de ser seu navegador

Agora sigo mudo
com uma velha mochila abarrotada
de claridades do mundo

             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Navio banido



Como um navio banido
saio da orla azul onde habitamos
como um navio banido
vagam no horizonte
os nossos olhares apartados
De novo somos os de antes
mas longe das estrelas
dos bares onde nos amamos
e que agora são os ícones mortos
do nosso amor errante
Como um navio banido


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Redes de vento





As palavras pelo mundo
eram puro movimento
A cada momento as buscava
com minhas redes de vento
A cada instante partiam
como   pássaros ao nada
mas para mim retornavam
num movimento crescente
Voltavam como cardumes
ou mesmo  como matilhas
de coisas a serem ditas
Pousavam sempre inocentes
na noite feita de águas
com seus lumes e semblantes
no colo da madrugada

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Poema de barro




Noite dos dizeres
derramados
Sob o luar
uma sinfonia
Frágeis as mãos
talham o barro
da vida que seria
E assim este
faz-se verso
no corpo do poema
até tornar-se pássaro
e ir-se na ventania
Então pensa o homem
que é ave
o barro
de sua poesia

                 Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Barco sem cais



Como um barco sem cais
refaço o percurso
que nos apartou
As ruas escorriam pelos dias
e o mar era o nosso destino
O pão nosso de cada dia
era o nosso amor
e assim, livres
com as mãos atadas
pelo estado de comunhão
que nos supria
seguíamos sem sequer
suspeitar
que o tempo
nos apartaria

               Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Sob estrelas



Sob as primeiras estrelas
e a égide de um sonho
descemos abismados
das cidadelas do outono
E as centelhas da noite
que são enxames de estrelas
lembram acordes calados  
que nos ocultam sem nomes
Com as primeiras palavras
das cercanias das águas
trago da noite os poemas
soltos da foz do mundo

                Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Palavras



A noite tinge estrelas
esculpidas sobre as águas
Mas sob o clarão do nada
forjamos vagas certezas
com nossas frágeis palavras
e seus navios de areia
Que fossem nossas palavras
mais estradas do que muros
ou mesmo mais do que isto
fossem o sentido que busco
Mas são apenas os pássaros
das algazarras do mundo
pois quando as busco e as enlaço
se tornam signos mudos
e novamente me acho
sob o mistério de tudo

                  Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Constatações




Nunca move-se o poema
para onde o tanjo
e de suas revoadas
só guardo arranjos

Do sumo das palavras
que o consome
só retenho vagos cantos
que lembram veleiros
sem nome
ao sabor dessa
alquimia
a qual chamam
poesia

              Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Noite branca



A noite arada pelos ventos
te afaga com seus elementos
Mas os teus olhos sobre a orla branca
já não tem o ar cansado dos passantes
Em ti ancoram ínfimos
os navios dos teus poemas
mas estás aqui alheio
às multidões de signos

Tens por fim somente
a companhia de teus versos
que nesta madrugada pousam leves
como bichos ariscos
de outros universos

                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Papel do mar





Que o mar cumpra seu papel
com seus búzios que a todo momento
me chegam com seus  sonetos de vento
e que levo aos ouvidos desatentos
Que o mar cumpra seu cordel
ao trazer-me o sentido do infinito
seu país azul amarrotado


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Luz das calçadas



Eu que estava só sob o efeito das palavras
quis fazer delas em mim um caminho e enseada
Agora persigo a luz que pousa nas calçadas
inventando o que me escapa encantando o que me desata

Como as lanternas acesas dos balões das madrugadas
da minha infância calada onde o tempo não passava
De uma vida sem voz onde a fala sitiada
Reinventou-se  em palavra em forma de música e água


      Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Atabaques





O mar quebrava
nas calçadas
E os atabaques
sitiavam
O que em nós
era outono
e madrugada

                       Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Indizível



Longe das cidades mas perto
dos veleiros
abrigo-me sob os poemas
na mesma latitude do mar
mas já na entressafra do não dito

Assim procuro o indizível
como se a palavra
esta que por si se basta
fosse apenas o preâmbulo
de uma grande saga
a ser contada


             Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban 

Palavras






Palavras emergem do açude
da alma
e as sigo
para que soltas do visgo
da noite
tornem-se o pão
do mundo

Não há descanso
até que pousem
na carne da vida
na música e seu incêndio´

Na foz dos acontecimentos


                Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban

Parapeitos



Que seja janeiro
de onde emergem as palavras
içadas dos parapeitos
dos dias que aqui me chegam
e se erguem para o nada
Que seja janeiro
a foz do primeiro beijo
e deste copo largado
a espantar-me de mim mesmo
E que de janeiro voltem
os comboios da infância
com seus navios perdidos   
no dorso dos horizontes
E que assim janeiro nos deixe
sem as respostas procuradas a esmo
Só encontradas nos teus olhos janeiros
e nessa enseada a que chamo de teu corpo


                   Do livro "No País dos estaleiros" de Francisco Orban