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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PAÍS FEITO DE ACHADOS

         Acordei com uma palavra vinda de um rio. Era o início do conto que  escreveria, não fossem tantos outros que se revezavam. Trouxe este conto para a linha de frente, afastando imagens e vernáculos. Agora, posso escrevê-lo, mas antes o mapeio com um barco, pois temo no percurso achá-lo raso, para os longos pensamentos que abraço. Munido de uma tarrafa, jogo-a nos olhos das palavras, em águas já não claras, onde a poesia e as metáforas circundam inocentes minha mente. Agora, face a face com seu teor, me emociono com seus horizontes de esquecimento, seus corredores de vento, onde somos arremessados em suas margens. Depois enveredo por um labirinto onde os deuses vedam a passagem. Lá estou dentro do conto, no âmago de cada sentido. Cada palavra surpreendida revela uma nova vida, cujo canto pode embriagar-nos e para sempre prender-nos em um país feito de achados.

         FRancisco Orban




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pesca oceânica


                  

                                   Latitudes do mar



Perto da cidade dos veleiros
longe  do estampido do vazio
abrigo-me sob os poemas
Na mesma latitude do mar
mas nas entressafras 
do não dito
onde procuro o indizível
como se a palavra 
esta que por si se basta
fosse apenas o preâmbulo
de uma grande saga
a ser contada

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Mágico canhoto


                              


Quem sabe das noites
que viajam invisíveis
nas dunas brandas do dia?

Quem sabe do transe
que me fazia navegar
por entre vidas marítimas?

Quem é o mágico canhoto
que promove os desencontros ?

Quem sabe das coisas do mar?
das coisas que acontecem
entre um homem e uma mulher.

Quem é a fada da saudade
que pousa no meu ombro?
E meu olhar de escombros
brilha.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Navios


Como tirar um navio
dos estaleiros do coração
se um navio não cabe
nas ruas da cidade?

E como drenar seus rios
com suas tardes
de  repousos oceânicos
e descansos pelas estações
dos mares?

Como tirar um navio do coração
sem comprometer
a rota de seus rumos
e seu adorno de velas brancas?

Como resgatá-lo
com seu sangue aguado
pelo afago das maresias
e seu dorso silenciado
pelas noites adernadas
nas estradas de mar
desse  mundo?

Como tirar um navio
do coração
gestado nos estaleiros
das palavras
desse breve poeta
que navegou sempre
no impossível da alma?

             Francisco Orban