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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Altares

 
Estávamos todos integrados naquele bar caído. Pé-sujo da pior espécie bebendo álcool que é o sangue dos deuses esquecidos, ouvindo um hino de Paulinho da Viola, a que chamam apropriadamente de samba, e que nos fazia  irmanados, naquele sentido maior de estarmos vivos. Estávamos ali unidos sob a toga da noite, para sempre filhos de um mesmo sentido oculto de existir, que ali se anunciava em pequenos atos. Estávamos assim instalados no afago daquele momento absoluto a redimir a imprópria soberba que o álcool atiça, com palavras ao acaso, e gracejos dispensáveis em outros ambientes, mas que ali eram adornos perfeitamente necessários. Estávamos assim, dispersados da passeata chamada mundo, e recostados naquele pequeno palco do planeta denominado por alguns de boteco, mas que para nós era mesmo um altar, onde celebrávamos o mistério daquele momento, cada um a sua maneira, ouvindo um samba de raiz, que são as canções dos combatentes e sonhadores do mundo.

                FRANCISCO ORBAN