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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Homem do mar




Sou um homem do mar
e com ele velejo
num navio
sem rumo

Cada um traz velas
retiradas das águas
e outonos dobrados
emprestados do mundo

Sou um homem do mar
que arruma cansaços

Para acordar
e se pôr
a serviço das águas













Marília


           


Então era o açude do tempo
o que apenas falava
daqueles haras de luz
daqueles tão longos dias
onde um dia deparei-me
com o sorriso de Marília

Onde um dia me incluí
no rio que ele trazia
Naquela tarde trançada
pela sua alegoria
onde Marília de branco
tirou o branco que havia
ficando branca para mim
em sua nudez tão alva
que até hoje me embalam
os carinhos que fazia 

domingo, 23 de outubro de 2011

Torniquete

Torniquete


No espanto deste dia
visto sempre além dos molares
estas tendas de sonhos encobertas
onde exaurido sigo poeta
para as batalhas que sei perdidas

No espanto deste dia
ando nesta rua só de ida
para o porvir que ninguém sabe
a fazer um torniquete que encobre
a sangria dos embates estelares

Aventura e ventania

 

 

Pele de aventura e ventania

o horizonte abraçando a estrada


e as lembranças nas mãos pousadas

senhoras e donas do mundo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os pássaros desciam do Outono

Te afagava o rosto
tuas pernas eram longos caminhos
afoitos
Te afagava o corpo
os pássaros desciam do outono
e a noite pousava
como uma grande cidade


Quis sentir teu abandono
este poeta
que voltou
de um longo sonho

Arrastão


Arrastão

Recolho do mar
os poemas
para que assim
renasçam
com seus motivos
de vento

Que importa se me trazem
a exaustão das estradas
ou os sudários esquecidos
dos habitantes do frio

Que importa se me trazem
a pele franzida e aguada
do escalpo de uma estrela
caída da madrugada  


Nos anzóis do dia-a-dia
fisgo os poemas
que emergem
da foz  de um mundo
não feito

domingo, 16 de outubro de 2011

Das estações

Das estações




Nosso amor agora é uma cicatriz errante
Mas antes não era este jarro quebrado
quando eu andava contigo
no círculo da alegria e das palavras

Não era este passar de horas
alternadas pelo meu cansaço
Porque eu estava vivo no mundo
com os favos dos teus beijos na carne

E tudo era o acontecimento do nosso amor
com seu tambor de sol a refazer a tarde
Sem os pátios de descasos em que agora me acho
tão longe das estações dos teus braços



Poema esquecido

                                                                         
Nunca esta tarde esteve tão perto
Como um poema esquecido
e nunca mais reaberto
volto à cena antes
dos presságios
Refaço  a planície
em que  me recostava
sobre o leito  do teu amor
na borda de uma grande
cidade inesperada

Nunca a madrugada
ficou tão clara
como quando teus seios
recostados ao meu peito
acendiam a luz das calçadas
Eu que tinha sido
apenas o emissário
de um outono
estava     
fusionado a ti
para sempre
sobre a doçura
do teu corpo aberto


Bala Perdida

                                     ( Lição Severina)                          

A bala é um ser quase mudo
mas se cumpre num estampido
ferindo seres e falas
e a harmonia do ouvido

A bala com seu plano sujo
não faz concessão a nada
resvala  pela madrugada
mas só para abrir uma vala

E a madrugada que a acolhe
que afaga vento e estrelas
não sabe que ela é em si
um erro da natureza

Da natureza do homem
que a produz e consome
que a adestra e a solta
como cachorro sem dono

No equilíbrio do mundo
a bala é uma estrangeira
pois ela não tem o cheiro
e a algazarra das feiras